As serras oferecem-nos oportunidades únicas para viajarmos no tempo. O maior desafio é saber reconhecê-las. Maio e Junho são os melhores meses para dar de caras com um arbusto bastante raro e que estabelece uma valiosa ponte até paisagens botânicas ancestrais: está em flor o loendro, uma relíquia que vem da floresta subtropical que dominava Portugal antes da última glaciação e que subsiste apenas na Península Ibérica, em núcleos muito reduzidos.
Com uma longa e surpreendente história de adaptação, o loendro (ou adelfeira, como é conhecido mais a sul) acabou por encontrar refúgio em locais montanhosos, junto a cursos de água, como a ribeira de Cambarinho, em Vouzela, onde deu origem a uma reserva botânica.
Da família Ericaceae, a mesma do medronheiro, do mirtilo e das urzes, este arbusto, de nome científico Rhododendron ponticum subsp. baeticum (Boiss.&Reut) Hand.-Mazz, pode chegar aos três metros de altura, destaca-se pelas grandes flores violáceas e atrai muitos visitantes. Mas a beleza nem sempre foi sinónimo de admiração: tempos houve em que poucos davam apreço a esta planta por ser venenosa. A colheita feita pelo botânico Júlio Henriques, ainda no séc. XIX, é por isso digna de nota.