O Arcebispo de Abuja decidiu que a igreja deveria estar presente mesmo nos lugares mais insignificantes, mesmo nas aldeias mais distantes e pobres que quase não se encontram no mapa. São lugares sem importância, mas onde vivem as pessoas que agora são os paroquianos do Padre Thaddeus Ekene Anasigwe. São todos pobres, mas o sacerdote fala deles com um sincero deslumbramento. Ele consegue ver mais do que nós, consegue ver para além dos olhos. O que ele vê está ao nível do coração, da alma. “As condições de vida aqui são muito, muito pobres”, explica a uma equipa da Fundação AIS. “As pessoas nem sequer têm água, luz ou cuidados de saúde. Há problemas de segurança” diz ainda, como se precisasse de explicar a vida miserável que se esconde em tantas aldeias como aquela na Diocese de Abuja, na Nigéria, onde nos recebe. Mas é ali, por causa daquele povo que vive naquelas casas, que os seus olhos se iluminam sorrindo. “Todos os dias estas pessoas fazem um esforço para ver Cristo umas nas outras…” É poderoso perceber isto. Foi por ter conseguido olhar até ao fundo do coração daqueles que agora são os seus paroquianos, que o Padre Thaddeus nos mostra o seu sorriso feliz. O sorriso de quem encontrou um tesouro entre gente humilde que vive em casas miseráveis. O tesouro está nelas. Vive nelas. E o Padre Thaddeus aprendeu a deixar-se contagiar. A câmara de filmar da Fundação AIS seguiu o padre como uma sombra. Viu-o a celebrar a Missa, viu-o a dar aulas de catequese a crianças irrequietas, viu-o, divertido, a ensinar uma menina a fazer o sinal da cruz, viu-o a dar a comunhão, a falar com os aldeões, a brincar com eles e a receber alguns alimentos que tinham guardado, na sua pobreza, para o seu sacerdote. “Eu vivo com aquilo que as pessoas me puderem dar. Sobrevivo com isso.” A doação é total, o contágio é absoluto. “Onde quer que esteja o povo de Deus, os sacerdotes devem estar aí. Onde quer que haja fé, essa fé tem de ser apoiada.”
A Igreja na Nigéria está numa encruzilhada. A violência cresce de dia para dia. Os ataques às comunidades cristãs são cada vez mais frequentes, assim como os raptos de sacerdotes. Há uma ameaça no ar e em algumas regiões é preciso mesmo coragem para os fiéis irem à Missa. Há um sentimento de abandono, de que as autoridades não fazem o suficiente para proteger os Cristãos. Ao longo de 2022, houve o assassinato de sete sacerdotes. Quatro, no desempenho das suas missões, e mais três que acabariam assassinados após terem sido raptados. Em Dezembro, em apenas 72 horas, dois padres foram raptados em duas dioceses. Já este ano, um sacerdote morreu, queimado, quando atacaram a sua casa paroquial em Kafin-Koro, na Diocese de Minna. O medo alastra, mas também por isso é extraordinário haver padres que arriscam tudo na defesa dos mais fracos, dos mais pobres, dos que estão longe em aldeias que mal se avistam nos mapas. Da Nigéria chegam-nos exemplos inspiradores de sacerdotes que assumem a sua missão até às últimas consequências, doando-se por inteiro aos esquecidos pela sociedade, em aldeias onde falta tudo, onde não há electricidade, nem água, nem posto médico, nem nada. Às vezes até nem comida no prato. Mas eles lá estão, com o seu povo, contagiando e contagiando-se de uma fé que nasce do coração. O Padre Thaddeus pede para não nos esquecermos da Igreja que sofre na Nigéria. Uma Igreja onde há muitas aldeias muito pobres que escondem um verdadeiro tesouro. O tesouro da fé.