Não é preciso recuar muito no tempo. Na Páscoa do ano passado, o padre Pierre Roumba esteve em Kompienga, uma pequena localidade no Burquina Fasso. Rodeada por grupos terroristas, Kompienga está praticamente isolada do resto do mundo. À sua volta foram colocadas minas terrestres e os terroristas têm até postos de controlo. “Só podemos entrar de helicóptero”, explica o padre Pierre à Fundação AIS. Não há outra forma de entrar ou sair da povoação e de escapar à vigilância dos que, de dedo no gatilho, querem impor a submissão de todos a um islão radical. Foi o que aconteceu. “Por volta do Pentecostes do ano passado, os terroristas começaram a atacar. Muitas pessoas foram mortas ou feridas e tiveram de ser transportadas por via aérea. Os terroristas também se apoderaram de gado e estão a fazer tudo o que podem para obrigar a população a converter-se. Se as pessoas recusam converter-se ao Islão, são obrigadas a partir, mas como as estradas estão bloqueadas, são deixadas a vaguear pela floresta, e muitas morrem por falta de comida”, descreve o missionário.
As palavras do padre Pierre são um grito de socorro, mas também de revolta. O mundo não olha para o Burquina Fasso, não olha para tantos países de África onde as populações estão a ser abandonadas à sua sorte. Para a Igreja, esta situação é também um desafio. Não se trata apenas de ajudar os que são vítimas da violência terrorista. É preciso ir mais longe. É preciso ouvir, estar presente, secar as lágrimas. Às vezes, bastam pequenos gestos, os abraços apertados, o silêncio comovido. A Igreja do Burquina Fasso está ao lado destes verdadeiros náufragos, vítimas do terror. Esta é uma Igreja que acolhe e acompanha. O padre Pierre fala-nos disto. “Muitas pessoas viram os seus entes queridos serem degolados ou reduzidos à escravatura sexual. Crianças nasceram por causa dessas violações… Teremos de curar todas estas feridas, sejam elas físicas ou psicológicas”, diz o sacerdote.
É a fé testada nos limites do sofrimento. “O sangue dos mártires é semente de cristãos aqui no Burquina Fasso. Em Kompienga, apesar dos terroristas, tem aumentado o número dos que pedem para serem baptizados, tal como tem aumentado o número dos que frequentam as aulas de catequese”, diz ainda o padre Pierre, dos Missionários do Campo, uma congregação que é apoiada directamente pela Fundação AIS.
Num tempo em que o terrorismo é uma ameaça real para tudo e todos, é incrível saber como os cristãos do Burquina Fasso resistem, como tantos se recusam a abandonar a sua fé mesmo que, para isso, tenham de arriscar a própria vida.