“O mal não terá a última palavra” | HS #455 | 07JUL23

“Desde os primeiros ataques em 2015, os Cristãos já não podem exercer livremente o seu direito à liberdade religiosa.” As palavras do Pe. Wenceslau Belem na Catedral de Almudena, em Madrid, não podiam ser mais explícitas e têm agora um sentido ainda mais agudo após o lançamento, dia 22 de Junho, na Assembleia da República, em Lisboa, do Relatório da Fundação AIS sobre a Liberdade religiosa no Mundo. Convidado em Fevereiro pelo secretariado espanhol da AIS, este sacerdote falou de um país em que os cristãos vivem amordaçados, sem liberdade, sujeitos a uma violência brutal por parte de grupos jihadistas que querem impor o Islão como a única religião. “Desde que o terror começou, mais de 2 mil escolas foram encerradas. Atacam igrejas católicas matando ou raptando cristãos, especialmente catequistas, padres e outros leigos empenhados; e querem impor o uso de véus de rosto inteiro a todas as mulheres. Muitas raparigas cristãs têm de ir à escola com o véu para evitarem ser marcadas, caluniadas, espancadas ou mesmo raptadas…” A ameaça não podia ser mais explícita. É a tal ponto que, contou o Pe. Wenceslau Belem, perante uma audiência atenta, “aos domingos e dias de festa, a polícia, os militares ou voluntários, cercam as igrejas para que possamos rezar e celebrar a Santa Missa sem perigo”. Todo o seu depoimento foi assim, descrevendo um país que caiu nas malhas do terror jihadista. A maioria da população do Burkina Faso é muçulmana, cerca de 60%. Os católicos são menos de metade [cerca de 19%]. Contrariar a ameaça jihadista requer coragem e até imaginação. “Quando vemos enfermeiras católicas que se confiam à misericórdia de Deus, se disfarçam de muçulmanas e vão às aldeias, atravessando zonas perigosas, passando por terroristas para salvar vidas, para cuidar de pessoas doentes que não puderam fugir, é encorajador e dizemos que é Deus quem salva”, disse também o Pe. Wenceslau.
O testemunho deste sacerdote ficou marcado também pela história do Pe. Jacques Yaro Zerbo, assassinado no dia 2 de Janeiro deste ano. Morreu quando se dirigia para uma aldeia para o funeral de um catequista. “No caminho, os terroristas detiveram-no. Conhecendo-o e sabendo que devido à sua fé católica ele não se deixava intimidar, levaram-no a poucos metros da capela da aldeia, mataram-no a tiro e foram-se embora com o seu carro. Os cristãos ouviram o barulho, foram ver e descobriram que era o Pe. Jacques Zerbo.” Tal como com este sacerdote, que “deu a vida por permanecer fiel a Cristo”, a Igreja do Burquina Fasso começa a ser um viveiro de mártires. E alguns deles foram lembrados na Catedral de Almudena, em Madrid. “Em Março de 2019, o Pe. Joel Yougbare, pároco de Djibo na Diocese de Dori, foi raptado e não temos notícias dele até hoje; em Maio do mesmo ano, o vigário paroquial Simeon Yampa e outros cinco paroquianos foram assassinados durante uma Missa dominical. Em 2021, outro sacerdote, Rodrigues Sanou, e um sacerdote missionário espanhol, Antonio Cesar Fernandez, também foram mortos. Outros paroquianos foram raptados, alguns foram libertados, outros não.” Todos eles são hoje recordados com saudade, mas também na certeza de que as suas vidas não foram em vão. O Pe. Wenceslau Belem agradeceu a ajuda que a Fundação AIS tem dado à Igreja perseguida do seu país e deixou a certeza de que os cristãos do Burquina Fasso vão resistir à violência e ao terrorismo com a única arma possível: a oração e o espírito de paz. “Obrigado à Ajuda à Igreja que Sofre. Estamos convencidos de que o mal não terá a última palavra. Continuaremos com esperança a lutar contra o terrorismo com a nossa única ‘Kalashnikov’, a nossa arma invisível, mas muito eficaz: a oração.”

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