Deus trocou as voltas à Irmã Gianna. Ela própria confessa isso à Fundação AIS. Antes de ter pensado em seguir a vida religiosa, esta jovem polaca de sorriso generoso tinha outros planos para a sua vida. “Queria ter um marido, muitos filhos, uma casa com jardim e piscina…” Tudo menos viver em África. “Nem em sonhos.” Mas Deus não lhe fez essa vontade. Hoje, Gianna é uma das três irmãs de Jesus Misericordioso na Serra Leoa. Ela está em Kambia. Por ali, além da exuberância da natureza, falta quase tudo. A começar pela electricidade. Mas o pior talvez seja a falta de esperança num tempo melhor. A Serra Leoa ainda hoje vive os fantasmas da guerra civil que se prolongou por uma década, entre 1991 e 2002. Terão morrido mais de 50 mil pessoas e mais de 500 mil tiveram de fugir das suas casas. Foi de tal forma brutal que o país ficou arrasado. E depois, mais tarde, veio ainda a epidemia do Ébola e a pandemia do Coronavírus. É difícil sonhar num país ainda com memórias vivas de tanta tragédia. Mas este é o país onde vive agora a Irmã Gianna. E logo ela, que “nem sem sonhos” se imaginava em África, tinha de vir parar a um dos países mais pobres do mundo. Que fazem estas irmãs na Serra Leoa? Procuram mostrar que Deus é amor. “Tentamos fazê-lo por todo o lado onde vamos. Estamos neste lugar há muito pouco tempo, mas tentamos, com o nosso modo de vida, mostrar o que significa ser Deus misericordioso, que Deus é amor…”
Chegou em Dezembro de 2016 e já diz que ama esta terra que adoptou como a sua nova pátria. “Eu amo este lugar. As pessoas que vivem aqui, por exemplo os nossos vizinhos são muçulmanos, são muito abertas connosco. O meu inglês não é perfeito e no início era difícil falar línguas diferentes, falar em inglês. Mas eles diziam: ‘Tente, irmã, tente! Queremos que fale, fale em inglês. Tente. Nós vamos tentar perceber o que quer dizer.’ Mesmo quando eu não entendia aquilo que me queriam dizer, repetiam-no muitas vezes e eu tentava entender.” A vida na Serra Leoa é difícil. Não haverá um lugar neste país onde as pessoas não tenham dificuldades, onde não precisem de ajuda. As irmãs estão ali para isso, para estenderam as suas mãos, para ajudarem a construir sonhos, para ajudarem a reconstruir vidas. E ideias para isso não faltam. “Temos planos para este lugar”, diz, sempre sorrindo, a Irmã Gianna. E com a ajuda da Fundação AIS, alguns desses sonhos foram-se tornando realidade. Foi assim com a escolinha para os mais novos. O edifício que existia foi renovado sempre a pensar nas crianças. O telhado foi reparado e construíram-se casas de banho, uma novidade por ali. “Agora, podemos ensinar as crianças a utilizá-la e melhorar o seu nível de vida. Vêm aqui todos os dias e aprendem, estudam e brincam, mas também recebem uma refeição quente, o que é raro para elas. São felizes e afortunadas”, diz a Irmã Gianna, agradecendo a todos os benfeitores que tornaram possível esta obra. Actualmente, o infantário é frequentado por cerca de uma centena de crianças. As irmãs acreditam que elas poderão vir a ser uma semente de fé. A presença destas irmãs tem tido um impacto muito positivo na vida das pessoas, na vida da comunidade local, especialmente entre os jovens e as crianças. As irmãs chegaram, estabeleceram laços de proximidade e deixaram que o amor falasse mais alto. O amor aos outros, esse ingrediente tão especial que levou a Irmã Gianna a deixar de lado o sonho de ter um marido e uma casa grande com jardim e piscina e muitos filhos para abraçar a humanidade num dos países mais pobres do mundo. Na Serra Leoa, a Irmã Gianna está a fazer algo de extraordinário. Está a ensinar o que é a esperança…